Eu sempre gostei das sextas-feiras, porque além de ser o primeiro dia do final de semana eu ainda via meu pai me trazer o dinheiro semanal. Não por causa do dinheiro, mas pela presença dele. A moto fazia um barulho inconfundível de forma que eu a escutava quando ela ainda estava na esquina. E acho que era pra eu ter certeza, que ele deixava a moto quase morrer e depois acelerava de uma vez enquanto dobrava a esquina, fazendo aquele "vrum" que eu sempre amei.
A visita durava apenas alguns segundos, que era o tempo dele abrir a carteira e fazer reluzir no meu rosto o briho do distintivo bem polido. Nesses dias nunca chovia, o sol permanecia forte. Parece até que era um dia especial na cidade, apesar de sempre ser pra mim. Enquanto ele procurava as notas certas eu sempre analizava o adesivo de brasão - que eu achava um máximo - colado no tanque vermelho, surrado pelo tempo e que cada vez mais se desfazia. Ele me entregava o dinheiro mas eu nunca pude ver emoção nos olhos dele, pois estes eram sempre cobertos por um Ray-Ban original não muito bonito, mas que com o tempo se adequou à pessoa dele.
Eu nunca consegui vê-lo indo embora, pois me dava uma tristeza profunda e eu sempre achei que a culpa da separação foi minha. Mas isso não vem ao caso.
Eu sei que por trás daquela imagem inabalável o pai de verdade estava escondido com um pouco de vergonha. Nunca o culpei por isso, e nem posso, afinal ele é o meu pai.
Abraços, remetente.







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