Era comum eu ir descansar da turbulência do meu mundo na lanchonete perto de casa. O melhor suco de laranja era o de lá. Como de costume, pedi um suco e fiquei observando a rua pelo vidro quase imperceptível, e como era de costume ela estava lá. Sentada no ponto de ônibus com um olhar perdido. Todas as vezes que eu ia na lanchonete eu a via, e todas as pessoas que ficavam no ponto subiam em algum ônibus, mas ela não. Quando a noite começava a cair ela se levantava vagarosamente - como se ainda esperasse alguma coisa - e ia embora com uma cara de decepção. Um dia cheguei mais cedo e pedi o de sempre. Ela virou a esquina e eu não pensei dua vezes : peguei o suco e atravessei a rua para me sentar no ponto. Ela se sentou ao meu lado e depois de alguns minutos perguntei :
- Não pude deixar de notar que todos os dias você chega no mesmo horário e vai embora algumas horas depois. Se não for incômodo responder, porque você faz isso ?
Sem olhar para mim ela suspirou algumas vezes e pude notar que ela fechou os olhos e com a mesma postura começou a falar :
- Quando eu tinha nove anos minha mãe e eu estávamos neste mesmo ponto de ônibus e ela me disse que das 4:00 da tarde às 6:00 da noite um ônibus especial pode passar, e que ele é diferente dos outros pois o nome dele é felicidade. Ela me disse que tudo nele é bom e que os assentos são coloridos, mas não repetem as cores. Ela também falou que quem entra nele nunca mais sai, pois não existe nada melhor do que conseguir apanhá-lo.
Depois de dizer isso minha mãe entrou em um ônibus e me deixou aqui. Não pude notar qual ônibus era, pois estava confusa por conta do seu ato. Acho que era o felicidade mesmo, pois ela deixou sua filha por conta da viagem, não é mesmo ?
Minha garganta, ainda engasgada, só pode responder um simples e curto : - Sim !
Ela continuou : - Agora, todos os dias eu espero o felicidade, mas presto atenção nos detalhes de todos os ônibus e até nos passageiros, pois às vezes ele pode vir disfarçado para só o pegar quem o conhece. Até hoje não o achei, mas sei que quando pegá-lo poderei ver minha mãe.
O relógio dela apitou e levantando rápido ela me disse : - Bom, já deu meu horário, amanhã eu volto na mesma hora. Ok ?
Quando ela se virou para me dar um sorriso, pude ver que ela era cega. Foi aí que intendi que a felicidade só aparece para aqueles que enchergam a vida de uma forma melhor, positiva.
Me despedi e fui embora sem terminar o suco que ficou no banco esperando um ônibus qualquer.
Abraços, remetente.







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